terça-feira, 8 de junho de 2010

Políticas Públicas na Educação Infantil

O lugar da infância e da educação Infantil na contemporaneidade

Segundo Ariès (1975), sabe-se que até por volta do século XII havia um descobrimento da infância, pois a criança era encarada não só como um ser de pouca idade, mas, também, como se houvesse um padrão médio, único e abstrato de comportamento infantil no qual ela pudesse se encaixar.
A realidade atual tem mostrado que não há mais a preocupação com uma criança padrão, mas com a infância dentro de um contexto cultural, social, político e econômico do qual a criança é parte integrante, merecendo, portanto atenção e cuidado.
É, certamente, cuidando da infância que poderemos, entre outras coisas, reduzir a pobreza, diminuir a violência e a marginalidade, respeitar a diversidade e melhorar o bem-estar e a qualidade de vida das crianças e de suas famílias.
Portanto, viver a infância é direito de todas as crianças, e a infância é entendida como condição indispensável para que as crianças exerçam uma cidadania consciente e refletida, que possa servir de base para um mundo melhor.
Hoje é preciso pensar na infância como algo dinâmico, que se constrói continuamente dentro do contexto socioeconômico e político e que deve ser objeto de políticas públicas sérias e adequadas à realidade, não podendo mais partir de educação compensatória.
Um dos componentes fundamentais que podemos pensar enquanto política pública é o brincar, que se constitui em um dos direitos das crianças. Brincar faz parte da educação do ser humano. Através do brincar as crianças aprendem a cultura dos mais velhos, se inserem nos grupos e conhecem o mundo que está ao seu redor.
Segundo Delors (2003), para se viver neste novo século e favorecer o desenvolvimento contínuo de cada ser humano, a educação deve estar assentada sobre quatro grandes pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Para que isso ocorra, é preciso que ela possa aprender a conhecer, exercitando tanto a atenção quanto a memória e o pensamento, o que mostra que o conhecimento não é algo finito, mas inacabado, e que, portanto, se enriquece com qualquer experiência.
É brincando que a criança expressa vontades e desejos construídos ao longo de sua vida, ao mesmo tempo em que interage no mundo em que vive e se integra na cultura de sua época.
Podemos observar que os pais não têm tempo suficiente para participar das brincadeiras de seus filhos ou ensinar as atividades lúdicas de outrora, além das crianças possuírem agendas preenchidas e os espaços para o lazer infantil foram diminuindo. Desta forma, o lúdico passa a ser transmitido nas escolas. Pensando nisto, o brincar deveria ser o critério essencial nos currículos na educação infantil.
No entanto, a maioria das escolas de educação infantil preocupa-se mais em ensinar conteúdos às crianças. Além de que, alguns professores não estão preparados adequadamente ou não dão maior importância ao brincar, especialmente no que diz respeito às atividades motoras, há um desconhecimento por parte dos docentes, do que as crianças devem desenvolver. No entanto, o professor deve ir além da posição de observador ou de considerar a recreação um simples intervalo do seu trabalho, sem nenhuma preocupação educativa.

Formação do professor de Educação Infantil: limites e possibilidades

O professor de Educação Infantil tem que ser reflexivo, vivenciar pesquisa no cotidiano de formação, ter atitude de inovar e construir uma prática transformadora deve garantir para a criança o direito de aprender e de se desenvolver, através de situações didáticas eficazes, inclusive para as crianças que estão na creche e nas escolas de educação infantil. Nesse caso desconsidera que a aprendizagem e o ensino de conteúdos não são “objetivo” final da educação da criança pequena
No entanto, deve-se ter em mente que a simples formação oficial não pode e nem deve ser vista como a única exigência para se tornar professor de creche ou pré-escola. Sabemos que muitas vezes a prática nos ensina mais que a teoria. Mas a questão, além de uma formação oficial, deve ser entendida como qualificação para aqueles que desejam atuar no cuidado e na educação de crianças. Devemos olhar para a “exigência” da formação do ponto de vista de direito: pois é um direito dos profissionais, assim como é um direito das crianças.
Para a construção de um novo olhar sobre a formação precisamos refletir sobre algumas questões, entre elas destacamos: quem são os sujeitos da formação; que lugar o trabalho de educar crianças ocupa em suas vidas; de onde vêm; quais são suas histórias e suas demandas; o que conhecem a respeito de como educar e cuidar de crianças pequenas; o que deve ser imprescindível para a construção de uma política de formação de professores; o que significa ser professor de Educação Infantil; quais valores e qualidade entendemos que são importantes para esse profissional; como esses profissionais vêem e compreendem a infância?
Podemos relacionar alguns pontos, sem, no entanto, estabelecer uma hierarquia, pois devem ser percebidos como partes de um todo, qualidades essenciais para trabalhar na Educação Infantil:
 Pesquisadores com pensamento crítico;
 Colaboradores no processo de formação de significados, identidades e valores;
 Possibilitadores de ações criativas, inclusive de suas próprias;
 Profissionais curiosos, atentos, comprometidos e democráticos;
Com certeza ainda temos grandes desafios pela frente na formação de professores da educação Infantil.
Além disso, é preciso com urgência discutir os problemas de identidade desses professores, que são profissionais da educação e como tais devem ser
respeitados e valorizados.

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Referências:

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. Ed. Rio de Janeiro: Livro Técnico e Científico, 1975 apud Carneiro, Maria Angela Barbato, Dodge, Janine J. A descoberta do brincar. São Paulo: Editora Melhoramentos?Editora Boa Companhia, 2007,pg 25
DELORS,Rheta; KAMII, Constance. Jogos em grupos na educação infantil: implicações da teoria de Piaget, São Paulo: Trajetória Cultural, 1991 apud Carneiro, Maria Angela Barbato, Dodge, Janine J. A descoberta do brincar. São Paulo: Editora Melhoramentos/Editora Boa Companhia, 2007,pg 25

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